1 LOUVAI ao SENHOR. Cantai ao SENHOR
um cântico novo, e o seu louvor na congregação dos santos. 2 Alegre-se
Israel naquele que o fez, regozijem-se os filhos de Sião no seu Rei. 3
Louvem o seu nome com danças; cantem-lhe o seu louvor com tamborim e
harpa. 4 Porque o SENHOR se agrada do seu povo; ornará os mansos com a
salvação. 5 Exultem os santos na glória; alegrem-se nas suas camas. 6
Estejam na sua garganta os altos louvores de Deus, e espada de dois fios
nas suas mãos, 7 Para tomarem vingança dos gentios, e darem
repreensões aos povos; 8 Para prenderem os seus reis com cadeias, e os
seus nobres com grilhões de ferro; 9 Para fazerem neles o juízo
escrito; esta será a glória de todos os santos. Louvai ao SENHOR.
Tornou-se consenso que louvar a Deus é entoar uma melodia harmoniosa e ritmada com um conteúdo sacro. Seria este o louvor que Deus requer dos homens?
Se observarmos os elementos que constituem as poesias dos salmos, vê-se que a rima e o ritmo são ausentes e, o que se tem é uma cadencia de ideias relacionadas regidas por asserções (afirmações) simples.
Apesar de os salmos serem empregados como componente litúrgico, eles vão além de uma oração cantada e acompanhada de instrumentos musicais, pois o valor dos salmos não está nos canticos, instrumentos ou na melodia.
É de conhecimento que os salmos possuem uma estrutura que estabelece uma ‘rima’ de pensamentos, ideias, nunca de sons, ritmo ou rima, e tal estrutura é denominada paralelismo. Dos paralelismos mais conhecidos temos:
a) Paralelismo
Sinônimo – A segunda asserção repete o pensamento da primeira, porém,
utiliza-se de termos diferentes. Ex: "Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e
os que nele habitam" ( Salmo 24.1 );
b) Paralelismo Antitético – A segunda asserção
contrasta a ideia da primeira. Ex: "Pois
o Senhor conhece o caminho dos justos; mas o caminho dos ímpios
perecerá" ( Sl 1:6 );
c) Paralelismo Sintético – A
segunda asserção enfatiza o estipulado pela primeira. Ex: "Não te furtes a fazer o bem a quem de
direito, estando na tua mão o poder de fazê-lo" ( Pv 3:27 );
d) Paralelismo Climático -
A segunda asserção faz uso de palavras da primeira asserção e
complementa a ideia. Ex: “Tributai
ao SENHOR, filhos de Deus, tributai ao SENHOR glória e força” (
Sl 29:1 );
e)
Paralelismo Emblemático – A primeira asserção estabelece um comparativo
que ilustra a segunda asserção. Ex: "Como
água fria para o sedento, tais são as boas-novas vindas de um país
remoto" ( Pv 25:25 ).
Os diversos tipos de paralelismos são
utilizados para compor ou evidenciar uma ideia, que geralmente
constitui uma instrução, uma profecia, uma repreensão, um exemplo, etc.,
ao povo de Israel.Análise das asserções
1
LOUVAI ao SENHOR. Cantai ao SENHOR um cântico novo, e o seu louvor na
congregação dos santos.
O salmista convoca os santos a cantarem o louvor que pertence a Deus: o cântico novo. O louvor proveniente da congregação dos santos é denominado de cântico novo. Através do paralelismo sinônimo fica estabelecido que ‘tributar’ ao Senhor o cântico novo é o mesmo que ‘seu louvor’, sendo que o ‘cântico novo’ só é possível no ajuntamento solene dos santos.
Para compreendermos a ideia que consta do verso 1, é necessário analisar os versos que se seguem.
2 Alegre-se Israel naquele que o fez,
regozijem-se os filhos de Sião no seu Rei.
Temos um
paralelismo sinônimo, visto que a ideia da primeira asserção é repetida
na segunda, porém, com termos diferentes. Através do princípio da
identidade pertinente à lógica este salmo demonstra que ‘aquele que fez
(criou) Israel’ é o ‘rei de Sião’.Por associação, devemos questionar quem é o Rei de Sião? Ora, em primeiro lugar, Jerusalém é a cidade do grande Rei "Formoso de sítio, e alegria de toda a terra é o monte Sião sobre os lados do norte, a cidade do grande Rei" ( Sl 48:2 ); "Nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei" ( Mt 5:35 ). Em segundo lugar, o Filho de Davi, o Senhor Jesus Cristo é o grande Rei, pois foi o Pai quem o ungiu sobre o seu santo monte "Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião" ( Sl 2:6 ); “E, ouvindo eles isto, unânimes levantaram a voz a Deus, e disseram: Senhor, tu és o Deus que fizeste o céu, e a terra, e o mar e tudo o que neles há; Que disseste pela boca de Davi, teu servo: Por que bramaram os gentios, e os povos pensaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra, E os príncipes se ajuntaram à uma, Contra o Senhor e contra o seu Ungido. Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer” ( At 4:24 -28).
Cristo também é nomeado de Senhor da glória, o Senhor que fez os mares e a quem a terra pertence "Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O SENHOR dos Exércitos, ele é o Rei da Glória. (Selá.)" ( Sl 24:9 -10).
Portanto, o profeta Davi insta com os filhos de Sião que se regozijem em Cristo, o grande Rei. Que se alegrem naquele que criou a Israel! Aqui é apresentado um dos aspectos da divindade de Cristo: Criador! Cristo é criador de todas as coisas “Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” ( Jo 1:2 -3); "Declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor" ( Rm 1:4 ).
O profeta Jeremias faz alusão a Cristo como sendo o renovo justo da linhagem de Davi e, por ser rei, reinará ( Jr 23:5 ). Nos dias do renovo justo, Judá será salvo e o próprio Deus há de nomeá-lo: O Senhor Justiça Nossa "Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA" ( Jr 23:6 ). Este é o mesmo posicionameno do escritor aos Hebreus ao interpretar o Salmo 45: "Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de eqüidade é o cetro do teu reino" ( Hb 1:8 ). O que Deus diz do Filho? Deus chama o Filho de Deus, de modo que os eu reinado subsiste pela eternidade! ( Sl 24:1 -10).
3 Louvem o seu nome com danças; cantem-lhe o
seu louvor com tamborim e harpa.
O cântico entoado a
Cristo deve ser expressão do espírito, alma e corpo, a dança representa
este aspecto do louvor. Que cantem o louvor de Deus com instrumentos
musicais. Este verso remete à ordem de Davi: “BENDIZE, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim
bendiga o seu santo nome” ( Sl 103:1 ).
4 Porque o SENHOR se agrada do seu povo; ornará
os mansos com a salvação. 5 Exultem os santos na glória; alegrem-se nas
suas camas. 6 Estejam na sua garganta os altos louvores de Deus, e
espada de dois fios nas suas mãos,
Neste verso vem
expresso o motivo do cântico: - O Senhor se agrada do seu povo! Do verso
temos a negativa: Deus não se agrada daqueles que não são o seu povo.
Para ser o povo de Deus é necessário ter sido criado por Ele, conforme
se lê: "Sabei que o SENHOR é Deus;
foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do
seu pasto" ( Sl 100:3 ), o que nos remete a asserção do verso 2:
“Alegre-se Israel naquele que o
fez, regozijem-se os filhos de Sião no seu Rei”.Como o povo de Israel não confiou em Deus rejeitando que Deus lhes falasse, por receio de morrerem quando o monte Sinai começou a fumegar “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel” ( Ex 19:5 -6), esta profecia cumpre-se cabalmente na Igreja de Cristo, que é constituída a nação santa e o povo adquirido "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" ( 1Pe 2:9 ).
O povo de Deus se constitui daqueles que foram agraciados com a salvação, ou seja, os mansos. Os mansos são bem-aventurados, pois adentraram no descanso do Senhor. São bem-aventurados porque aprenderam de Cristo que é manso e humilde de coração ( Mt 11:29 ). Os mansos constituem-se o povo de Deus, visto que estão ornados de salvação.
O povo de Deus é manso e santo, portanto, deve alegrar-se na glória recebida de Cristo "E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um" ( Jo 17:22 ; v. 9). Os santos do Senhor devem exultar porque adentraram no descanso (cama, repouso) prometido ( Hb 4:3 ).
É requisito imprescindível aos santos que os altos louvores de Deus estejam na garganta. O que isto significa? Que os altos louvores refere-se ao fruto dos lábios que professam a Cristo ( Hb 13:15 ). Diz do fruto dos lábios que Deus criou ( Is 57:19 ). Cristo, o Filho de Davi, é o cântico novo que Deus colocou nos lábios dos seus santos "E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação" ( Ap 5:9 ).
Através do paralelismo emblemático, o salmista estabelece que ‘os altos louvores de Deus’ compara-se a uma espada de dois fios nas mãos dos seus santos. É por isso que o apóstolo Paulo ao falar dos obreiros, recomenda que sejam aprovados, ou seja, que manejem bem a palavra da verdade "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" ( 2Tm 2:15 ).
A espada de dois fios diz da espada do Espírito, das palavras de Cristo, que é espírito e vida "Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus" ( Ef 6:17 ; Jo 6:63 ), de modo que a Igreja de Cristo constitui-se de santos despenseiro do ministério do espírito ( 2Co 3:6 e 8 ).
Aquele que proclama a Cristo como Senhor e salvador dos homens está com os altos louvores de Deus em sua garganta. Falar de Cristo aos homens é o mesmo que ter a espada de dois fios nas mãos "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração" ( Hb 4:12 ).
Quando proclama Cristo como diz as Escrituras, os seus santos estão entoando louvores a Deus. Basta ao povo do Altíssimo batalhar pela Fé que uma vez foi dada aos santos que está adorando a Deus na beleza da sua santidade ( Jd 3). Basta desembainhar a espada do Espírito, manejando bem a palavra de Deus que o homem está adorando em espírito e em verdade.
O evangelho é salvação para todo que crê, portanto o cristão deve exultar com o evangelho. O cântico, o louvor, a exultação, a adoração do cristão não se firma em cânticos entoados durante a liturgia dos cultos, antes decorre do que professa acerca de Cristo. Os cânticos liturgicos expressam a alegria da alma do adorador e, se for uma composição segundo as Escrituras, estará anunciando Cristo aos homens, porém, o verdadeiro louvor restringe-se ao que o homem professa de Cristo com sua boca "A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo" ( Rm 10:9 ).
Todos que estão ligados à Videira verdadeira produzem muito fruto, ou seja, o fruto dos lábios que confessam a Cristo ( Hb 13:15 ). É através deste fruto que Deus é glorificado "Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos" ( Jo 15:8 ); "E todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado" ( Is 60:21 ); "Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém" ( 1Pe 4:11 ).
É inútil afinar instrumentos musicais; de nada serve fazer inúmeros ensaios musicais; não adianta estruturar um grande coral; nem tão pouco o gritar ‘aleluia’ e ‘gloria’, se o adorador não professar a Cristo como Senhor conforme diz as Escrituras ( Jo 7:38 ). Mas, se professar a Cristo segundo as Escrituras, nisto Deus é glorificado! O fruto consiste em confessar a Cristo com a boca, quando se crê com o coração ( Lc 6:45 ).
7 Para tomarem vingança dos gentios, e darem
repreensões aos povos; 8 Para prenderem os seus reis com cadeias, e os
seus nobres com grilhões de ferro; 9 Para fazerem neles o juízo
escrito; esta será a glória de todos os santos. Louvai ao SENHOR.
Para encerrar o salmo enfatizando a pessoa de Cristo Jesus, o salmista profeticamente faz menção do Messias quando vindicar o seu reino dado pelo Pai (v. 7 e 9). Cristo como rei em toda a terra há de pisar o lagar da ira de Deus, conforme o descrito pelo profeta Isaias no capítulo 63, versos 1 à 6. Cristo atropelará os povos na sua ira, pois Ele é o braço do Senhor, que faz o que é aprazível ao Pai ( Is 62:5 ). Estes versos retratam o tempo em que Cristo será nomeado pelo Pai de 'Senhor Justiça Nossa' "Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e agirá sabiamente, e praticará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA" ( Jr 23:5 -6).
Como Deus prometeu ao Seu Filho as nações da terra por herança ( Sl 2:8 ; Mt 19:28 ), Cristo há de reger as nações com vara de ferro ( Sl 2:9 ). Nada do que foi predito por Deus falhará, pois Deus fará cumprir nos reis da terra e em seus nobres o juízo pré-estabelecido nas Escrituras (v. 9 ).
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